quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sem limites para a mentira

Foto retirada do site: www.jornalpequeno.com.br
A necessidade para mentir torna-se cada vez mais perigosa. Há casos nos quais a fase fantasiosa da infância se prolonga, ultrapassando a barreira da normalidade e se esbarrando na patologia. Apesar da mentira aparecer, muitas vezes, em forma de algum transtorno, temos que saber separar patologia de falta de caráter, pois existem pessoas que mentem para se safar de situações e podem justificar seus atos através de alguma doença, o que é ainda mais abominável!

É inegável que a mentira faz parte do mundo em que a gente vive e que todos nós já contamos uma mentirinha, mas segundo o médico psiquiatra Luís Carlos Calil, a mentira passa a ser doença quando causa sofrimento para o indivíduo que mente ou para as pessoas de seu ambiente. Sendo assim, a mentira deve ser avaliada, segundo especialistas, considerando seu objetivo, circunstância e motivação.

Não sei se vocês já ouviram falar em Mitomania, então, antes de mais nada, falarei um pouquinho disso pra vocês. A Mitomania é um distúrbio de personalidade no qual o paciente possui uma tendência compulsiva pela mentira. Segundo Letícia de Oliveira, terapeuta comportamental, uma das grandes diferenças do mentiroso esporádico ou “tradicional” para o mitômano é que, no primeiro caso, o indivíduo não tem resistência em admitir a verdade, enquanto o portador da compulsão por mentir usa a mentira em proveito próprio ou prejuízo de outro de forma imoral e insensível, sem sentir necessidade de desfazer o engano. 

Na mitomania, o paciente usa a mentira de forma consciente para enganar pessoas e tirar vantagens. Ele nunca admite suas mentiras, embora tenha plena consciência de que são histórias imaginárias e também não se constrange ao vê-la descoberta. Esse comportamento patológico se torna um estilo de vida difícil de ser controlado como qualquer outra doença psiquiátrica. 

Agora, lembrando do que eu disse lá na primeira frase, sobre confundirmos falta de caráter com a mentira patológica, é importante dizermos aqui que o mentiroso comum calcula o perigo que corre, prevê as contestações, prepara contra-resposta, ao passo que o mentiroso patológico vai mentindo e dando asas à fantasia sem se preocupar em aprofundar e julgar o que diz, não se dando conta de que muitas vezes está caindo no ridículo. 

Segundo Simone Russo, psicóloga, o mentiroso compulsivo nem sempre tem noção de que está mentindo, o que o leva a acreditar em suas fantasias e considerá-las realidade. Furos nas histórias, comportamento desafiador, dificuldade em respeitar normas, ausência de limites e de preocupação com os outros são algumas das características para detectar o mitomaníaco.

A pessoa tem a necessidade psicológica de mentir para ter uma satisfação pessoal, para parecer mais interessante, e para isso passa a contar histórias fantasiosas. Pessoas inseguras, carentes e que precisam de atenção são o perfil mais comum. Ainda segundo alguns psiquiatras, as mulheres são a maioria entre os mentirosos compulsivos.


Para que haja o tratamento da mentira é necessário, em primeiro lugar, a identificação da doença de base responsável pela sua manifestação, pois existem vários transtornos que possuem a compulsão pela mentira como sintoma. A psicoterapia em conjunto com o uso de remédios é utilizada como controle.

Caros colegas e leitores, vocês conhecem alguém com esse perfil?Contem suas experiências aqui no blog. Tenho uma dificuldade imensa em saber o limite existente entre o mentiroso comum e o patológico. Ainda temos muito o que aprender!

Obrigada pelos comentários!Um abraço!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Adoção por casais homossexuais


Foto retirada do blog: michele-michelelarissa.blogspot.com

Vídeo indicado pelo colega "Panda", seguidor do blog. Obrigada, querido!
Queridos seguidores e leitores,
Como prometi anteriormente, escrevo hoje sobre a adoção de uma criança por um casal homossexual, assunto delicado e muito discutido atualmente.
Sempre costumo trazer casos do consultório, mas hoje farei um post mais teórico, pois ainda não atendi alguém que vive esse tipo de situação.
Antes de qualquer coisa, eu gostaria de ressaltar os dois pontos chave que transformam essa questão em tão polêmica e controversa: o reconhecimento, perante a sociedade, da existência de um núcleo familiar homoafetivo e a conseqüência gerada aos adotados por estas famílias.
Infelizmente, vivemos em sociedade e damos abertura para que as pessoas invadam nossas vidas. Com isso, damos a elas o direito de opinarem. Quando a pessoa possui um conhecimento sobre o assunto, acho até válido que ela opine e acrescente algum tipo de aprendizado. O grande problema é que existem pessoas que não conhecem nada sobre o assunto e, infelizmente, opinam de forma negativa e preconceituosa.
Embora haja esse "grande" impasse cercando o assunto, não podemos, de forma alguma, ignorar o direito dos homossexuais à adoção e, muito menos, os benefícios trazidos à sociedade em decorrência da formação de um novo lar aos adotados.
Paulo Bonança, psicólogo carioca, traz algumas questões interessantes em uma entrevista concedida ao site redepsi.com.br e acho válido expor algumas dessas questões, de forma resumida, como um convite à reflexão.
Geralmente, as pessoas dizem que uma criança adotada por um casal gay pode se tornar homossexual devido ao convívio. Paulo dá uma resposta espetacular e óvia: "Seria muito difícil poder afirmar que uma criança adotada por um casal gay venha a ser gay devido ao convívio. Seria o mesmo que afirmar que filhos de héteros serão héteros devido ao convívio com os pais héteros." Diante dessa resposta, acho que não preciso dizer nada.
Uma outra questão abordada seria sobre o preconceito existente na sociedade em relação a essas crianças. Frente a isto, Paulo friza que seria fundamental manter os canais de comunicação abertos, dizendo ao filho que eles estão dispostos e disponíveis a conversar sobre o tema e a responder às dúvidas que ele possa vir a ter.
A orientação sexual dos pais não é algo tão importante para eles, dentro de casa, mas para algumas pessoas que vivem fora dessa relação, pode ser. Isto ocorre porque elas não sabem, não entendem o que é a homossexualidade.
Paulo deixa sua mensagem: "Omitir que é gay é instalar um segredo dentro do convívio familiar, é negar uma situação que pode ser óbvia, é negar os avanços sociais que levaram o casal à possibilidade de adotar esta criança, é colocar a homossexualidade dos pais dentro de um contexto obscuro. Talvez antes de negar ou afirmar algo, seja melhor averiguar o que a criança já sabe e o que pensar sobre a situação." Acho que tudo fica tão claro nessa entrevista, que não preciso expor a minha opinião, que acaba se misturando muito à opinião desse psicólogo.
Ainda assim, preciso deixar um recado para finalizar o post. Vamos pensar de forma mais positiva? Não podemos negar que existe preconceito e discriminação, mas o que a adoção visa? Segundo o que eu conheço e o que eu penso sobre o assunto, o principal é dar um lar cheio de afetividade a essa criança, para que ela tenha oportunidades de se desenvolver, se tornando um cidadão. Então, meus caros, por que dar tanta importância à sexualidade dos pais?
Respondam, devolvam a pergunta, reflitam, pensem sobre isso...a idéia do blog é justamente essa!
Obrigada a todos e um grande abraço!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Violência durante a Gravidez


Foto retirada do blog:
centropopulardamulher.blogspot.com

Mais uma vez apresento a vocês um caso clínico.

Atendo três pacientes da mesma família: pai, mãe e filha. Por enquanto, atendo os três separadamente, mas tudo indica que estamos caminhando para uma terapia familiar e que, juntos, posteriormente, em uma mesma sessão, poderemos obter alguns progressos, até porque os três casos se entrelaçam e não tem como ser diferente, o que, obviamente, já era esperado.

Bom. Vamos realmente ao que interessa nesse post: a mulher que sofreu violência durante a gravidez.

Quando ouvimos falar em gravidez, o que vem à cabeça é uma imagem positiva que lembra vida, alegria, amor, ainda que esta não seja uma gravidez planejada. Sendo assim, é muito difícil conseguirmos associar um momento tão lindo com qualquer tipo de violência, não é verdade? Porém, essa mulher me traz uma nova visão da realidade, que costumamos fantasiar: “Apanhei, ouvi barbaridades e ainda sofro com tudo isso!”

Não estou dizendo só de violência física, mas também emocional. O que importa é que qualquer tipo de violência traz danos terríveis. Pesquisas recentes demonstram correlação entre violência na gravidez e depressão pós-parto. Então, pelo que podemos constatar, os danos não são só relacionados à mãe, mas também à criança, que sofre com a rejeição.

Sabem o pior de tudo?A maior parte dessas mulheres atravessa esses momentos sozinhas por não terem condições de procurar ajuda. Com isso, a saúde da mulher e a saúde da criança ficam comprometidas.

Uma pesquisa realizada no estado de São Paulo, com 1.922 mulheres, com idade entre 15 e 49 anos e que engravidaram pelo menos uma vez na vida, revela que 60% delas já sofreram algum tipo de violência (física, sexual ou psicológica) pelo parceiro. Cerca de 20% das entrevistadas afirmaram terem sido agredidas durante a gravidez.

Segundo a psicóloga Julia Garcia Durand, que estudou o assunto em seu mestrado na Faculdade de Medicina (FM) da USP, a violência doméstica durante a gestação está associada à perda de suportes sociais (como o apoio familiar e da comunidade) por parte da mulher.  A partir disso, é criada uma situação de dependência em que o homem enxerga a mulher como uma pessoa submissa - uma visão que tende a se acentuar com a gravidez.

Diante de tudo o que foi colocado nesse post, o que posso dizer, por enquanto, é que, infelizmente, as mulheres procuram ajuda muito tarde, quando o caso já está insustentável. Então, chamo a atenção das mulheres que sofrem desses diversos tipos de violência: TENHAM CORAGEM, DENUNCIEM, PROCUREM AJUDA!

Temos que ir em busca de acabar com duas visões: a de que a mulher é a única responsável pelo planejamento familiar e a associação de masculinidade à violência.

Amigos psicólogos, não sou especialista em terapia familiar. Mais um desafio!!! Me ajudem nessa e deixem seus comentários!
Obrigada e um forte abraço!=)